Blog do Marcial Lima - Voz e Vez: 90% dos casos de violência contra idosos são praticados por familiares

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

90% dos casos de violência contra idosos são praticados por familiares

Na manhã de ontem, Ilma Maria, de 63 anos, chegava à Delegacia de Proteção ao Idoso (DPI), em São Luís, para registrar - mais uma vez - uma denúncia contra seu vizinho, que havia lhe agredido ao sair de casa. Vítima muitas vezes, não só de agressão física, mas também verbal e psicológica por parte dele, a idosa declarou, aos prantos, não suportar mais tal situação. Esse é apenas um dos diversos casos de violência contra idosos registrados diariamente na DPI, que traz um dado ainda mais preocupante, 90% das agressões são praticadas por familiares.

Hoje, Dia Internacional do Idoso, a data incita à reflexão sobre a atual situação da pessoa idosa, muitas vezes subjugada pelo pensamento de que, por ter alcançado uma idade avançada, não contribui mais para a sociedade. Segundo o delegado Emanuel Bastos, que responde interinamente pela DPI, infelizmente não há o que comemorar nessa data, pois os casos de violência contra os idosos só têm aumentado com o passar dos anos, apesar da existência do Estatuto do Idoso e dos muitos órgãos de proteção.

"Mesmo com todos os órgãos e entidades de proteção ao idoso, a demanda é muito grande e hoje não temos o que comemorar. Os casos de agressão só têm aumentado com o passar dos anos e, apesar do Estatuto do Idoso, não há condições de se aplicar a lei e o que impera, ainda, é a impunidade", assinalou.

Tal impunidade pode ser percebida no caso de Ilma Maria, que já registrou várias ocorrências contra o vizinho, identificado como José Ribamar Pinheiro, cabo da Polícia Militar, e que age a despeito de sua função, segundo ela. As agressões também se estendem ao seu filho, ainda menor de idade, que tenta proteger a mãe, mas acaba também sendo vítima. Ontem, a idosa chegou à delegacia com marcas no braço e no rosto, após ter sido agredida mais uma vez pelo vizinho.

"Eu moro em apartamento e ele não respeita as normas do condomínio. Como eu não aceito o desrespeito dele com os moradores e reclamo, ele me ameaça, me agride. Uma vez ele me acuou, junto com meu filho, e nos agrediu. Ele fala mal de mim e incita vários amigos dele a fazer o mesmo. Eu não aguento mais, já registrei ocorrência, já abri processo, mas ele não me deixa em paz. Todo dia é uma ameaça e hoje ele me agrediu de novo", disse, fragilizada.

Registros - Apesar do caso de Ilma Maria, a maioria das agressões a idosos registradas na delegacia ainda é praticada por familiares, sendo filhos ou netos, e em grande parte usuários de drogas. "O cenário que temos aqui é de filhos ou netos, que agridem as mães ou os avós, e a maioria deles é usuário de droga. Como não se tem condição adequada para oferecer tratamento a esses dependentes químicos, o que acaba acontecendo é que, após denunciada, essa pessoa sai de casa e só retorna quando volta a si", afirmou o delegado Emanuel Santos.

Contudo, ele ressalta que, de dez casos registrados, em pelo menos oito há conciliação e o agressor não repete o ato. "Nenhuma mãe ou avó quer ver seu filho ou neto preso. Então, apurada a infração e identificada a autoria, nós chamamos as partes e na maioria das vezes há a conciliação", disse. Hoje, apesar de ser uma delegacia especializada, a DPI atende também outras ocorrências - não só referentes à pessoa idosa - mas a maioria ainda é de maus-tratos aos mais velhos.

De O Estado.

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