Do blog do Daniel Matos:
A morte trágica da menina Ana Clara, de apenas 6 anos, que teve 95% do corpo queimado depois que o ônibus em que viajava com a mãe foi incendiado por bandidos, é um duro golpe nos cidadãos de bem. Como pode uma criança inocente perder a vida de forma tão cruel ao passo que criminosos da pior espécie gozam de tantos benefícios concedidos pela lei, alguns inadmissíveis diante das barbaridades que cometem?
Praguinha |
Vive-se, hoje, não só em São Luís, mas em todo o Brasil, uma inversão de valores, que se traduz em inúmeras injustiças. Enquanto pessoas que têm somente o trabalho como meio de sustento, pagam seus impostos e não têm qualquer pendência de ordem policial ou judicial estão acuadas, criminosos, muitos deles irrecuperáveis, se beneficiam dos mais variados privilégios, sendo o maior deles a impunidade. Se, via de regra, o cidadão reto tem a vida marcada por uma série de dificuldades, o bandido tem dinheiro suficiente para frequentar os melhores ambientes, vestir-se bem, ter carro, casa e outros bens adquiridos ilegalmente, principalmente com a renda do tráfico.
Para manter o status, o criminoso faz qualquer negócio. Não importa quantas vidas inocentes terá que ceifar. E quando se vê diante de uma repressão policial mais intensa, como é o caso do Maranhão de hoje, tenta impor mais medo ainda, a exemplo dos ataques a delegacias e incêndios de coletivos registrados nos últimos dias em São Luís.
Se o estilo de vida dos bandidos impressiona, a generosidade com que são tratados por alguns magistrados ou mesmo por tribunais inteiros é de espantar. O exemplo mais recente, que ao vir a público causou incontida indignação até na cúpula da polícia, é o do homicida e traficante Hilton Jonh Alves Araújo, o Praguinha, 27 anos, acusado de ter coordenado os ataques da última sexta-feira na capital. Mesmo sentenciado a 20 anos de prisão em regime fechado por homicídio, o criminoso foi beneficiado com a saída temporária de Natal em 2012 e, como era de se esperar, não retornou à prisão. Recapturado em janeiro do ano passado, ele foi mais uma vez liberado pela Justiça, que deu uma suspeita ordem de soltura alegando “decurso de prazo (morosidade) no recurso interposto contra sua condenação”.
O caso de Praguinha não é único. Outros criminosos, tão ou mais perigosos do que ele, gozam da mesma complacência da Justiça. Essa distorção já começa a abrir uma crise institucional entre o Judiciário e o sistema de segurança pública, cuja insatisfação vem sendo externada com cada vez mais ênfase, sob o argumento de que muitos bandidos são presos em vão, pois pouco tempo depois ganham novamente as ruas por determinação judicial.
Para além do mal estar entre Judiciário e polícia, tem-se o cidadão refém de aberrações cometidas por quem deveria aplicar a lei de forma justa e com base no bom senso.