Blog do Marcial Lima - Voz e Vez: Aos 87 anos, morre no Recife o escritor e poeta Adriano Suassuna

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Aos 87 anos, morre no Recife o escritor e poeta Adriano Suassuna

Morreu no Recife, ontem, o escritor, dramaturgo e poeta paraibano Ariano Suassuna, aos 87 anos. Ele estava internado desde a noite de segunda (21) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Português, onde foi submetido a uma cirurgia na mesma noite após sofrer um Acidente vascular cerebral (AVC) do tipo hemorrágico. Segundo boletim médico, o escritor faleceu às 17h15. "O paciente teve uma parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana".

O velório do corpo do escritor começou ainda na noite de ontem, no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, que decretou luto oficial de três dias. A partir das 23h, foi aberto o acesso do público ao local. O enterro está previsto para a tarde de hoje, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife.

Em 2013, Ariano foi internado duas vezes. A primeira delas em 21 de agosto, quando sentiu-se mal após sofrer um infarto agudo do miocárdio de pequenas proporções, de acordo com os médicos, e ficou internado na unidade coronária, mas depois foi transferido para um apartamento no hospital. Recebeu alta após seis dias, com recomendação de repouso e nenhuma visita.

Dias depois, um aneurisma cerebral o levou de volta ao hospital. Uma arteriografia foi feita para tratamento e ele saiu da UTI para um apartamento do hospital, de onde recebeu alta seis dias depois da internação, no dia 4 de setembro.

Na noite de segunda-feira (21), Ariano Suassuna deu entrada no hospital e foi operado após o diagnóstico do AVC. A cirurgia foi para a colocação de dois drenos, na tentativa de controlar a pressão intracraniana. Na noite de terça, o quadro dele se agravou, devido a "queda da pressão arterial e pressão intracraniana muito elevada", conforme foi informado em boletim.

Na aula-espetáculo que ministrou no Festival de Inverno de Garanhuns, na semana passada, mais uma vez Ariano misturou causos, informações sobre elementos da cultura popular nordestina. O grupo Arraial foi o convidado para os números de música e dança .

Ativo até o fim - Ariano Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927, em João Pessoa, e cresceu no Sertão paraibano. Mudou-se com a família para o Recife em 1942. Mesmo com os problemas na saúde, ele permanecia em plena atividade profissional. "No Sertão do Nordeste, a morte tem nome, chama-se Caetana. Se ela está pensando em me levar, não pense que vai ser fácil, não. Ela vai suar! Se vier com essas besteirinhas de infarto e aneurisma no cérebro, isso eu tiro de letra", disse ele, em dezembro de 2013, durante a retomada de suas aulas-espetáculo.

Em março deste ano, Ariano foi homenageado pelo maior bloco do mundo, o Galo da Madrugada. Ele pediu que a decoração fosse feita nas cores do Sport, vermelho e preto, e ficou muito contente com a homenagem. "Eu acho o futebol uma manifestação cultural que tem muitas ligações com o Carnaval", disse, na ocasião.

No mesmo mês, o escritor concedeu uma entrevista à TV Globo Nordeste sobre a finalização de seu novo livro, O jumento sedutor. Os manuscritos começaram a ser trabalhados há mais de trinta anos.

Na última sexta-feira, Suassuna apresentou uma aula espetáculo no teatro Luiz Souto Dourado, em Garanhuns, durante o Festival de Inverno. No Carnaval do próximo ano, o autor paraibano deve ser homenageado pela escola de samba Unidos de Padre Miguel, do Rio de Janeiro.

Obra - A primeira peça do escritor, Uma mulher vestida de sol, ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno em 1948. Ariano escreveu um de seus maiores clássicos, O Auto da Compadecida, em 1955, cinco anos depois de se formar em direito. A peça foi apresentada pela primeira vez no Recife, em 1957, no Teatro de Santa

Isabel, sem grande sucesso, explodindo nacionalmente apenas quando foi encenada - e ganhou o prêmio - no Festival de Estudantes do Rio de Janeiro, no Teatro Dulcina. A obra é considerada a mais famosa dele, devido às diversas adaptações. Guel Arraes levou o Auto à TV e ao cinema em 1999.

O escritor considera que seu melhor livro é o Romance d'A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta. A obra começou a ser produzida em 1958 e levou 12 anos para ficar pronta. Foi adaptada por Luiz Fernando Carvalho e exibida pela Rede Globo em 2007, com o nome de A pedra do reino.

Na década de 70, Ariano começou a articular o Movimento Armorial, que defendeu a criação de uma arte erudita nordestina a partir de suas raízes populares. Ele também foi membro-fundador do Conselho Nacional de Cultura.

Após 32 anos nas salas de aula, Suassuna se aposentou do cargo de professor da Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. O período também ficou marcado pelo reconhecimento nacional do escritor - Ariano tomou posse na cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, em 1990.

Em São Luís

No dia 26 de outubro de 2007, Ariano Suassuna - em visita a São Luís e para participar da Iª Feira de Livros - recebeu em ato solene na Câmara dos Vereadores o título de Cidadão Ludovicense. Na época com 80 anos de idade, Suassuna fez agradecimentos pela homenagem e mencionou, em discurso, o escritor maranhense Gonçalves Dias. Ao citar o poema mais famoso do escritor (Canção do Exílio), Suassuna se emocionou. "Minha terra tem palmeiras...[pausa]. Não vou conseguir. A emoção é forte", disse. Já recomposto, o escritor paraibano destacou a inspiração em Gonçalves Dias em seu trabalho. "É um escritor que sempre admirei e que fez parte da minha história. É o Maranhão presente em minha vida e em minha obra", destacou.

Com texto de O Estado.

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