Blog do Marcial Lima - Voz e Vez: Turma do Coco: Um Resgate de uma Geração

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Turma do Coco: Um Resgate de uma Geração

“Eu viajei na imaginação, fui buscar a poesia num canto de emoção, busquei a noite também procurei o dia, tô banhado de saudade, côco é minha fantasia”. Essa estrofe da composição de Eurico Sousa, o ”Pé de ouro”, inicia a música que resgata um tempo e um grupo de motivação carnavalesca que surgiu no início dos anos 80, mais precisamente no ano de 1982, em Lago da Pedra, Estado do Maranhão. Como diriam os saudosistas: os tempos eram outros. E essa afirmação se respalda em vários aspectos. 

Vamos a eles: não necessariamente que tenha se passado tanto tempo assim, mas, o estilo era outro, o tempo, o clima, a atmosfera, as relações interpessoais, a tecnologia, a condução da vida, os hábitos, tudo soava diferente. E por falar em hábito, o mais praticado entre os jovens da época, era a leitura, saudável leitura, tão colocada em planos inferiores com o avançar dos anos. 

Pois bem, essa mesma juventude que respirava a atmosfera culturalmente positiva, foi a responsável pela formação de um grupo com sigla imponente, tanto quanto eram imponentes os ideais que o embalava: ACTC – Associação Carnavalesca Turma do Côco. A denominação pitoresca que encabeçava o bloco surgiu com dupla motivação: a primeira, uma justa homenagem à palmácea abundante na região e a segunda, veio a calhar com um dos hits populares da época, tocado e cantado em todos os rincões do Estado do Maranhão e além-fronteira, na voz de Messias Holanda, que entoava: “eu quero me trepar no pé de côco, eu quero me trepar prá tirar côco”.

Esse elenco de jovens pacatos, porém, audaciosos para o tempo, construiu um capítulo inesquecível na história cultural de Lago da Pedra. É muito gratificante recordar as atividades que emanavam da mentalidade fértil dos envolvidos no aconchegante grupo carnavalesco, as promoções de festas dos mais variados estilos, a dedicação singular de todos, o sorriso estampado no rosto pelo êxito das iniciativas, os desfiles de moda promovidos e estrelados pelos próprios componentes. Como não lembrar do Clube Recreativo Jaguar e do Jovem Clube, palcos de tantas peripécias e até mesmo das vias públicas, que por tantas ocasiões nos abrigou para o deleite da população de brincantes de todas as faixas etárias, que se permitiam apreciar sem medo da violência que hoje campeia em todos os lugares. 

Há uma recomendação bastante coerente, quando um orador ou escritor manifesta o desejo de mencionar nomes, independente da atividade a que se refere. O risco de cometer injustiças por esquecimento é sempre presente, contudo, no nosso entendimento, resgatar a Turma do Côco, literalmente e não fazer desfilar na passarela, os atores daquela maravilhosa agremiação, seria deixar incompleta uma obra tão importante. Correrei o risco, pedindo a compreensão pela possível ausência de algum nome. A presidência do grupo coube ao temperamento sereno e tranqüilo de Ivaldo Mesquita, a composição dos sambas que até hoje habitam a nossa memória ficava a cargo de Eurico Sousa, o Eurico do Cazuza ou ainda o querido Pé-de-ouro, Para acompanhar o batuque com empolgação zelo e precisão, Antonio Carvalho, o Toinho no violão, Abidiel Dias no atabaque, Walman Soares no pandeiro e Claudionor França, o Denor, no tamborim, além de outros instrumentos que se revezavam entre os componentes. Vocalistas eram todos, samba na ponta da língua e muita empolgação. O fuzuê era grande, capaz de fazer balançar a mais quieta das criaturas. 

O bloco era pequeno, quantitativamente, mas, a qualidade era de primeira. Eis: Iran do Nascimento, Jesus da Cemar, Idelvan Lira, Zezinho do Tuna, Jucileide do Capemba, Valda Maria, Erivaldo Moraes, o Lili, Chico Eudes, os saudosos Abimael Dias e Waldir Filho, Rui Cutrim, o nêgo Rui, Érika Brasil, Évila Brasil, Antonia Mota, Toinha, Cleude França, Sales. O tempo de atividade efetivo da turma foi relativamente curto, em função, principalmente da necessidade de deslocamento da terra berço para galgar novos caminhos, novos rumos e outras paragens, mas, permaneceu guardado no mais íntimo recôndito da nossa memória, os momentos de elevada produção folclórico-cultural que emoldurou a vida de tantas pessoas. 

Trinta anos se passaram desde a fundação e, no carnaval de 2012 a TURMA DO CÔCO voltou ao cenário da folia lagopedrense, com a missão de resgatar seus encantos e canções, sambas e gingados, agora, apesar de um elenco mais maduro e experiente, traz consigo, lado a lado a força da nova geração, que assume a responsabilidade de compor anos a fio, a família TURMA DO CÔCO, que tanto alegrou os corações de uma galera muito feliz. 

Abidiel Dias – Membro fundador da Turma do Côco 

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